Os meus avós contam-me interessantes estórias, fábulas e outras historietas que me consolam o coração em momentos de grandes adversidades quando amanhece o sol e a porta abre o quintal cheio de raios de luz sem o que comer nem pra onde ir. Perdi a noção de tempo… A escola parece que ensina mesmo coisas sem interesse, ultimamente. Chiquito vai a escola e aprende que estamos no ano 2023, sem dúvidas todos dizem isso… A excepção dos outros calendários, o gregoriano que adoptamos no nosso país tem os ponteiros apontados a 2023!
Laurinha vive em Gaza e ouviu pessoas importantes e muito bem vestidas a saírem na televisão indicado que a sua província estaria, talvez, a viver o ano 2040. Sim, o Instituto Nacional de Estatísticas em Julho de 2019 fez um pronunciamento que levou os gazenses a crerem que estariam a viver o futuro e, portanto, muito adiantados em relação a outros compatriotas no mesmo solo. Quase todos quiseram se mudar para Gaza viver no futuro, porém nada de melhor oferecia em relação aos viventes do passado.
Um amigo de Inhambane dizia-me que gostava de viajar de carro, pois no meio da viagem experimentava o futuro por umas horas e voltava a vida. Ultimamente, é muito difícil contar a história de Gaza… Eventos sombrios que tem marcado os últimos dias vinham confirmado na opinião pública a ideia de que se estaria mesmo a viver no futuro. Não tardou, hoje a surpresa chegou a todo país pela imprensa, soube-se que as primeiras edições do Festival Nacional de Cultura foram realizadas nos anos 2080, 2081, HAWENA! Até os incautos ouviram e murmuram! Murmuram a quatros cantos! Estamos espantados! Excelências, afinal em que ano estaríamos de verdade?
Acaba de chegar a surpresa à Laurinha, ela soube que o país todo e, talvez a excepção de Gaza, já está tão adiantado e não se sabe se Gaza continua nos anos 2040 ou também ou já está nos anos três mil.
Joãozinho acredita que estejamos nos anos dois mil e cento e tal… Outros dizem que vivemos na imaginação… As opiniões fazem um incrível espetáculo sempre que exteriorizadas. Mas se estamos mesmo há um século independente e não ainda conseguimos ter acesso a água pura e energia, falhamos de verdade como projecto de uma nação soberana que se sonhou no âmbito da Luta Armada de Libertação Nacional. Vamos colocar o país nos outdor’s das grandes potências, talvez haja quem nos compre e nos dê o mínimo de socorro! Socorro, afinal em que ano estamos?
In. Crónicas de um país coxo ou constipado
Phelelé Mulher Livro