O professor Catedrático e antigo Reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Brazão Mazula, apontou a corrupção como um dos malefícios que ainda grassa a sociedade, prejudicando a função pública e retardando o desenvolvimento do país.
O académico falava numa palestra realizada na Universidade Pedagógica de Maputo, organizada pela Comissão Central de Ética Pública e intitulada “Integridade e Transparência no Serviço Público: O Desafio Para a Satisfação do Cidadão”.
Mazula cadastrou a corrupção a cinco níveis, tendo, para o efeito, usado como analogia animais aquáticos e terrestres, a destacar: corrupção magumba; corrupção garoupa; corrupção polvo; corrupção mosca; e corrupção tubarão. Mazula falou sobre a corrupção magumba, que é de pequena monta, mas no final do dia prejudica todo o sistema, sendo que o sector só se apercebe quando os prejuízos tornam-se visíveis. Diz ser um nível de pequenez mental.
“Os funcionários que vão tirando lâmpadas, uma lata de tinta, autoclismo, um saco de cimento para beneficiar a sua auto-construção. Os dirigentes que, por vingança, arquivam os processos para a promoção dos seus subordinados recorrendo à tribo, região ou religião”, comentou o Professor Catedrático citado pelo jornal Notícias.
Segundo Brazão Mazula, primeiro presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), alguns corruptos assemelham-se à garoupa, um peixe que se alimenta de outros peixes, actua sozinha, perseguindo as suas presas.
“São os funcionários que procuram encobrir, com certas artimanhas, o desvio de bens de valor que subtraem do erário público. São difíceis de apanhar, pois são de várias espécies como a garoupa do mar”, disse, salientando que não é tarefa fácil para as autoridades apanhar estes funcionários, uma vez que navegam em águas profundas de corrupção.
Os problemas de corrupção, segundo Mazula, são notáveis e prejudicam o desenvolvimento da administração pública e consequente falta de confiança do cidadão ao servidor público.
Afirmou ainda que, o caso da corrupção polvo, que parece manso e inofensivo e a sua bravura está nos seus tentáculos. Estes são os cabecilhas da corrupção, são ardilosos e matreiros, procuram envolver funcionários de outros sectores para não aparecerem sozinhos, usam seus tentáculos para o desvio de altas somas do erário público, geralmente não são funcionários de baixo escalão, como no polvo que quem come a presa não são os tentáculos, mas os mandantes.
De acordo com Brazão Mazula, alguns dos funcionários só se espantam quando são solicitados no tribunal para o julgamento. Para o académico, a solução reside na educação baseada em valores, com o envolvimento de toda a sociedade, incluindo família, escola, religião e o Estado.
“Todo aquele que se envolve em corrupção não teve educação base na família, o que desagua em arrogância, falta de respeito ao outro, uma vez que assumiu o cargo por sorte e não tem noção do que é a pessoa humana”, disse.
Segundo Mazula, um corrupto é como uma mosca que denuncia algo podre, são os que não se contêm quando se apercebem que numa certa instituição circula uma soma de dinheiro e não perdem oportunidades para estarem nas negociações de grandes projectos de investimento.
“A corrupção mosca é uma espécie de um terrorismo que vai matando aos poucos. A mosca é sempre terrorista”, defendeu o Professor Mazula.
O palestrante chamou à responsabilidade da escola na educação de valores, ciência, dignidade e respeito ao bem público, formar mente sã em corpo são, e velar pela educação integral aos seus cidadãos para não se desaguar na corrupção apelidada de corrupção tubarão, funcionários que acumulam vários cargos como se não houvesse no país pessoas competentes.
De: Francisco Jovo